4 de fev. de 2014



Existe tarefa mais importante realizada pela escola do que esta de ensinar a ler e a escrever?


Havia uma desconfiança: o mundo não terminava onde os céus e a terra se encontravam. A extensão do meu olhar não podiadeterminar a exata dimensão das coisas. Havia o depois. Havia o lugar do sol de aninhar enquanto a noite se fazia. Havia um abrigo para a lua enquanto era dia. E o meu coração de menino se afogava em desesperança. Eu que não era marinheiro nem pássaro - sem barco e asa. Um dia aprendi dom Lilia decifrar as letras e suas somas. E a palavra se mostrou como caminhos poderosos para encurtar distância, para alcançar onde só a fantasia suspeitava, para permitir silêncio e diálogo. Com apalavras eu ultrapassava a linha do horizonte. E meu coração de menino se afagava em esperança. Ao virar uma página do livro eu dobrava uma esquina, escalava uma montanha, transpunha uma maré. Ao passar uma folha eu frequentava  o fundo dos oceanos, transpirava em desertos para, em seguida,me fazer hóspede de outros corações. Pela leitura temperei a minha pátria, bebi de minha cidade, enquanto, pacientemente, degustei dos meus desejos e limites. Assim, o livro passou a ser o meu porto, a minha porta, o meu cais, a minha rota. Pelo livro soube da história e criei os avessos, soube do homem e seus disfarces, soube das várias faces e dos tantos lugares de se olhar. No livro soube do Gêneses e no livro leio novos testamentos do percurso. Ler é aventurar-se pelo universo inteiro.  

Bartolomeu Campos de Queirós

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