30 de mar. de 2014

Há poucos dias houve um suicídio de um estudante de um colegio de Teresina, alguns portais chegaram a divulgar que o estudante havia morrido nas dependências do colégio e fizeram ilações sobre o motivo da morte. O texto abaixo é de autoria da irmã do estudante que nos deixou  poucas vezes vi um texto tão bom e emocionante quanto este.
 PS: Respeito e Responsabilidsde são condições essenciais para quem trabalha com notícia.
O Instituto Dom Barreto é um colégio de loucos!
Loucos uns pelos outros.
Normalmente eu começaria esse texto assim: Venho por meio desta esclarecer a todos os desinformados... mostraria a ele que diria: nooossa Bárbara que saco, isso ta chato. Ele era assim: direto, não enrolava as palavras nem as pessoas, mas às vezes se enrolava nele mesmo.
Mas como começar a escrever algo desse tipo, logo agora, nesse minuto que tudo que eu queria era dormir e acordar como se nada tivesse acontecido? Então pensei: vou escrever como ele escreveria, com verdade.
Loucos uns pelos outros...era só o que eu pensava olhando para cada um daqueles alunos e professores que vinham me cumprimentar, e pensava também o quanto ele era feliz por viver parte de sua vida ali, bem onde ele queria estar.
“Loucos esses alunos, estudam demais” cochicham as vozes que por se julgarem normais se sentem no direito de interpretar desconhecidos, como se fizessem partes de sua vida e o conhecessem profundamente.
Meu irmão era louco, ria demais e não tinha vergonha de rir alto.
Meu irmão era louco, se emocionava facilmente e não se importava de chorar na frente de desconhecidos.
Meu irmão era louco, colecionava livros e lia cada um como se estivesse tendo orgasmos
Meu irmão era louco, estudava no Dom Barreto e gostava.
E esses amigos e professores são loucos também, incentivavam todos os dias meu irmão a sorrir alto, chorar fácil, ler livros complicados e gostar de tudo isso, e nós, sua família, fomos vítimas disso, fomos vítimas dessas histórias que ele chegava contando na hora do jantar e o fazia sorrir alto. Nós fomos vítimas das lágrimas que ele derramava pela ignorância humana que aprendeu a enxergar graças a esses livros difíceis que ele teimava em colecionar.
Ah... queria ser vítima a vida inteira!! Queria escutar mais uma história que fosse escutar o resumo do ultimo livro lido, a voz dele cantando Let it be enquanto tomava banho pra ir se encontrar com esses loucos.
Let it be agora parece quase palpável, ironizando a mim que escutava e não entendia o recado do cosmos: deixa estar, deixa ir...
Eu deixo, mas com uma condição: Que onde você estiver continue sendo louco! Faça a revolução em meio aos anjos e diga o que você não cansava de repetir: a ignorância é uma benção da qual felizmente Deus não me presenteou.
Eu li em algum lugar por aqui um texto que falavam de sua humanidade (e desde já peço perdão por não lembrar dos nomes, mas nunca esquecei nenhum olhar), dizia que ele era humano demais pra esse mundo, e nesse momento eu senti tanto ciúme e tanto orgulho, pois percebi que eu não era a única que o enxergava, havia mais, havia muito mais olhares atentos a ele, que conseguia perceber essa inquietude de viver em um mundo tão pequeno para uma mente tão brilhante.
Um brilhante fino e raro que lia Aristóteles e Maquiavel, mas não perdia um capítulo da novela. Um irmão tão amigo que esperava pacientemente a irmã paranoica vestir todas as roupas que tinha e dizer qual a melhor pra sair. Um filho tão especial que não dormia sem pedir a benção.
Aqueles que não conheciam meu irmão, mas mesmo assim dão-se o direito de julga-lo, eu digo: em tempo algum, ele aceitaria qualquer julgamento, o lugar de vítima não lhe pertence, pois era um transgressor pela vida, um questionador, um fabricante de ideias e pensamentos tão velozes e geniais que escorriam pelas pontas dos dedos e se transformavam em linhas tortas e belas.
“Puxou pra mim” eu não cansava de repetir, “adora ler e escrever”, puxou também de um primo a marra quando alguém discordava dele, puxou pra irmãzinha e também melhor amiga o olhar doce, puxou do pai a integridade e o caráter, puxou da mãe a responsabilidade, puxou da tia a paixão por bolos e o prazer em cuidar de todos... e assim era ele, um pedacinho de cada um, colhia como um jardineiro colhe as flores, sutil e delicadamente, o melhor das pessoas e trazia pra junto de si, engrandecendo mais ainda esse brilho, que irá iluminar nossos pensamentos e corações sempre.
Toda a família Dantas agradece profundamente ao Instituto Dom Barreto por todo o apoio, dizer que somos muito gratos por tudo que vocês ensinaram ao Teteus. Agradecer seus amigos loucos por todo o companheirismo, atenção e amizade oferecido a ele durante esses anos, e por todas as homenagens, e dizer que ele amava tudo aquilo.
Aos amigos pelo apoio, aqueles que se deslocaram somente para dar um abraço, aqueles que nada dizem e só escutam, aqueles que não escutam mas falam e distraiam a nossa mente, a todas as mensagens e ligações, muito abrigada!
Quero dizer por fim, que um dia nós vamos nos encontrar, e quando chegar esse dia eu vou te abraçar tão forte até doer todos os ossos, e vou me ajoelhar aos pés de Deus e pedir mais uma chance contigo, e vou prometer que nunca mais eu vou te perder! Mas até esse dia chegar, nós vamos estar aqui, sentindo uma saudade tão doída que faz tremer todo o corpo, mas vamos seguir em frente na certeza de que dias melhores virão.
E dizer pra você não esquecer que o ultimo pedaço de bolo de maracujá que está na geladeira sempre será seu!
Ps: Eu vou te amar por todas as minhas vidas

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